Consequências

  • Alterações nas funções motoras:

            A espasticidade é uma síndrome que dificulta a reabilitação neuromotora dos pacientes com AVC, podendo diminuir a amplitude de movimento articular, causar dores, limitar as actividades dos membros, como também pode dificultar as actividades funcionais e de vida prática, como, por exemplo, a higiene pessoal e os cuidados com a aparência exterior (Thompson et al., 2005).           

O apagamento da função do membro superior, limita a autonomia dos pacientes nas actividades da vida diária após o AVC, e podem levar à incapacidade permanente (Kluding & Billinger, 2005).

  • Alterações a nível cognitivo:

            Collette et al. (2005) referem que as áreas de projecção e de associação formam as áreas funcionais do cérebro, onde as primeiras recebem ou dão origem a fibras relacionadas com a sensibilidade e motricidade e, se lesionadas, podem causar alterações sensitivas ou motoras. Já as áreas de associação são relacionadas às funções cognitivas complexas, inclusive do comportamento emocional, movimento voluntário, linguagem e percepção sensorial.

            A incapacidade do sujeito lesionado de realizar aprendizagem associativa está correlacionada com o deficit temporal de memória. As lesões frontais conturbam a memória prospectiva que permite ter acesso a informações ordenadas no tempo e espaço, a fim de accionar as estratégias necessárias à memorização sequencial das acções à resolução de problemas (Brass, Derrfuss, Forstmann & Cramon, 2005). As dificuldades de atenção dos sujeitos com lesão frontal podem ser mostradas pela distracção e contaminação das tarefas por estímulos vindos do meio ambiente -efeito de “campo”. Assim, a atenção pressupõe orientação e concentração mental dirigidas para uma tarefa e inibição de actividades concorrentes (Naghavi & Nyberg, 2005).

  • Alterações na função sensorial:

Shiv, Loewenstein e Bechara (2005), afirmam que as alterações sensoriais mais frequentes e observáveis nos casos de lesão neurológicas do hemicorpo são os deficits sensoriais superficiais, proprioceptivos e visuais. O mesmo autor refere ser a diminuição e/ou abolição da sensibilidade superficial (táctil, térmica e dolorosa) responsável para o aparecimento de disfunções perceptivas (alterações da imagem corporal, negligência unilateral) e para o risco de auto-mutilações. O amortecimento da sensibilidade proprioceptiva (postural e vibratória) contribui para a perda da capacidade para executar movimentos eficientes e controlados, para a diminuição da sensação e noção de posição e de movimento, impedindo e diminuindo novas aprendizagens motoras no hemicorpo afectado.

  • Alterações no comportamento:

            Segundo Joubert et al. (2006), nos transtornos de humor parece haver uma falha nos processos inibitórios de comportamento.

  • Alterações visuais:

            Os pacientes com lesões hemisféricas olham para a direcção oposta ao lado afectado, enquanto que doentes com lesões do tronco cerebral conseguem olhar para ambos afirma Stokes (2004). Completando esta afirmação, Sullivan et al. (2006), sobressai as limitações do campo visual as quais contribuem para a ausência geral da consciência do lado afectado, seguindo o exemplo da Srª. S., a qual só maquilhava o rosto direito, caso descrito no livro de Sacks (1985).

 

  • Alterações de percepção:

 

            Ocorre a perda de sensação do lado afectado (hemianestesia), sensação de peso, parestesia, dormência, formigueiros e alterações na maneira de sentir as dimensões e posição do lado afectado; alterações proprioceptivas, que se caracterizam por perda da consciência muscular e articular, afectando significativamente o equilíbrio do doente e a actividade reflexa referem Black e Matassarin-Jacobs (1996), Stokes, (2004).

 

  • Alterações na linguagem:

             Segundo Brass, Derrfuss, Forstmann e Cramon (2005), os problemas da linguagem são frequentes nos indivíduos que sofreram um AVC devido à obstrução da artéria cerebral média no hemisfério esquerdo. A afasia é a perda das capacidades de linguagem, causadas por lesão geralmente no hemisfério dominante, incluindo a linguagem, a interpretação e a transmissão através do ouvir, do falar, da leitura e da escrita (Lundy-Ekman, 2007). A fala é difícil e frustrante para estes doentes, podendo levar a uma diminuição das tentativas de comunicação, por outro lado, a compreensão é normal ou próxima do normal (Wade, 1998). Os doentes com mais graves problemas de comunicação são os que apresentam afasia global, englobando dificuldades de expressão e recepção.

            O paciente pode também apresentar alterações da fala resultantes da perturbação do aparelho fonador. As mais comuns são disartria (dificuldade para articular a palavra) e a disfonia (alteração ou enfraquecimento da voz) expõe Nys et al., (2005). Haan, Nys e Zandvoort (2006), assegura que a apatia está presente em 26,5% dos pacientes com AVC, acompanhada de prejuízo na atenção e na fala.

  • Disfunções no aparelho digestivo:

            A disfagia ou disfunção da deglutição apresenta uma consequência de uma lesão neurológico, tal como um AVC, uma demência e doença de Parkinson, representando 75% dos casos disfagia orofaríngea (Ertekin & Aydogdu, 2003).

 

  • Incontinência urinária e intestinal:

Constituem um dos aspectos físicos que mais afectam a qualidade de vida relacionada com a saúde (Haacke et al., 2006), tendo como causa, segundo Cancela (2008) a falta de actividade física, dieta pobre em fibras, baixo consumo de líquidos, uso de medicamentos), stress, idade avançada e depressão.    

                           

  • Depressão

            A depressão está entre os transtornos neuropsiquiátricos mais comuns que ocorrem após o AVC, e a sua presença está associada a uma pior recuperação dos prejuízos cognitivos e das actividades da vida diária, assim como a um risco maior de mortalidade (Gupta, Pansari & Shetty, 2002; Jokinen et al., 2004; Kanner, 2004; Marmorato, Moreno, Keila & Moreno, 2002). É a alteração emocional mais frequente nos indivíduos pós-AVC, sendo assim uma consequência de destaque, na qual os indivíduos com lesão no hemisfério esquerdo se apresentam mais deprimidos em comparação aos  que sofreram lesão no hemisfério direito (Bhogal, Nicholson, Chambers, & Sheperd, 2003).

            Vários factores indiciam que o AVC pode levar à ocorrência de depressão devido a alterações fisiopatológicas e não apenas psicológicas (Carota, Staub & Bogousslavsky, 2002). Pacientes com depressão pós AVC têm mais apetência para apresentar demência vascular (Haan, Nys & Zandvoort, 2006).